Por que é tão difícil lidar com a frustração dos filhos ?
- 9 de março de 2018
Essa semana estive no pronto socorro com minha filha de 2 anos, passamos pela triagem, depois pela médica e foi necessário fazer um exame de urina.
Para isso, fomos encaminhadas para uma sala de espera. Chegando lá, me deparei com mais umas seis mães sozinhas com seus filhos também a espera de exames, uma de sangue, outra de raio x, etc. Uma das crianças parecia ter 7 anos, as demais todas por volta de 1 a 3 anos de idade.
Todas adoentadas, sentindo algum desconforto ou dor. Das seis mães, quatro seguravam um celular para “distrair” seus filhos. Do meu lado tinha uma mãe com uma bebê de 1 aninho, a bebê chorava, meio manhosa e desconfortável e a mamãe segurava o celular mostrando um vídeo musical famosinho, fazia de tudo para ela olhar, se entreter e parar de chorar.
Todas ali, mães preocupadas e inclinadas no cuidado de seus filhos… Mas por que todas elas usavam como recurso um celular, um vídeo, um joguinho para acalmar seus filhos??
Quem ensinou a nossa geração de mães que coisas são mais importantes que pessoas?
Não podemos nos confundir, entretenimento é bom, mas para regular as emoções de nossos filhos qualquer recurso como esse não contribuirá efetivamente, não será mais importante que a relação humana. Não contribuirá para a criança aprender e desenvolver recursos emocionais saudáveis e de troca afetiva. Diante da dor e da frustração crianças precisam aprender a regularem suas emoções de maneira saudável, precisam aprender e desenvolver a certeza de que existem pessoas nas quais ela pode confiar e veja nessas pessoas um apoio inigualável e insubstituível para recorrer.
No momento do choro, da dor, da frustração, crianças precisam aprender a elaborarem suas perdas e equilibrarem suas emoções, é por isso que a figura da mãe, do pai, do cuidador com qual ela tem um vínculo forte e de amparo é tão importante ! Somos nós, os adultos dessas relações, que “emprestamos” os recursos emocionais para que elas aprendam a elaborar suas dores e se sentirem seguras para avançar, com um novo olhar.
Além disso, são nesses momentos que nós adultos também aprendemos a desenvolver estratégias mais eficazes para ajudarmos nossos filhos e também nos transformamos dinamicamente nas relações familiares, é um troca profunda de apoio, confiança e superação.
É nessa interação profunda, com troca de olhares, gestos, falas diante de um desajustamento emocional que ambos crescemos. São nesses momentos que as crianças percebem que diante da dor mais profunda, podem recorrer a seus pais e terão ali um porto seguro confiável. É desde pequenas que desenvolvem essa relação íntima e de suporte emocional.
Mas como desenvolverão isso, ou saberão elaborar suas frustrações se as impedirmos de se relacionarem com pessoas reais, presentes e que podem responder a elas? Se nesses momentos ofertarmos máquinas e entretenimentos que não oportunizam os recursos humanos para superação, nem permitem que o interlocutor por trás dessas máquinas interaja de maneira real dando o suporte ??
Por que temos transferido nosso papel nessa regulação emocional para coisas ou estranhos ?
De fato, isso só irá gerar um vazio na alma dessas crianças que passam a sofrer de uma ausência e com isso carência de recursos emocionais para lidarem com seus problemas.
A injeção vai doer, adoecer vai doer, perder um brinquedo, brigar com o colega, levar uma mordida, trocar de escola, desentender-se com amigos, perder paqueras, etc, todas essas coisas trarão sofrimento aos nossos filhos, e que bom, pois é através disso que os ensinaremos a serem fortes, resilientes.
O que nossos filhos precisam é de um colo seguro, de uma abraço apertado, demorado, de um olhar penetrante, de um cheiro gostoso e familiar, de uma voz doce, segura, firme que os apoie e os ensinem a se tornarem fortes e regularem suas emoções. Só aprenderão serem humanos com outros humanos.
Por que nos incomodamos tanto com a frustração dos filhos e o choro ??
É saudável chorar, colocar para fora por meio de palavras suas dores.
O que não é saudável e normal são nossas crianças de 10, 12, 14 anos se jogarem dos mais altos andares, ou se cortarem, tomarem remédios que os levem embora dessa vida porque não suportam a dor, porque não reconhecem em seu lar, não reconhecem em seus relacionamentos um apoio no qual podem extravasar suas dores serem inteiros e aprenderem a se reerguerem após os nãos que recebem da vida, porque as vozes da internet, dos canais do youtube, da face, insta não podem responder,
Sejamos nós esse alivio ! Por favor, se ofereça inteiro ! Não perca a oportunidade de tirar deles tudo que desvia a atenção de você, faça de tudo para que ouçam os nãos de você também e que enxerguem em você, pai, mãe um apoio certo, seguro onde podem se jogar diante da dor. Só assim sobreviverão nessas relações platônicas de youtubers dos quais eles tanto gostam….
Cassiana Tardivo